quarta-feira, 23 de abril de 2008

Dela Musique

Dela Musique

Ah, pouco a pouco, entre as árvores antigas,
A figura dela emerge e eu deixo de pensar...
Pouco a pouco, da angústia de mim vou eu mesmo emergindo...

As duas figuras encontram-se na clareira ao pé do lago....

... As duas figuras sonhadas,
Porque isto foi só um raio de luar e uma tristeza minha,
E uma suposição de outra coisa,
E o resultado de existir...

Verdadeiramente, ter-se-iam encontrado as duas figuras
Na clareira ao pé do lago?
( ... Mas se não existem?...)
... Na clareira ao pé do lago?...

Álvaro de Campos

terça-feira, 22 de abril de 2008

O contrário do amor

O contrário de bonito é feio, de rico é pobre, de preto é branco, isso se aprende antes de entrar na escola. Se você fizer uma enquete entre as crianças, ouvirá também que o contrário do amor é o ódio. Elas estão erradas. Faça uma enquete entre adultos e descubra a resposta certa: o contrário do amor não é o ódio, é a indiferença.O que seria preferível, que a pessoa que você ama passasse a lhe odiar, ou que lhe fosse totalmente indiferente? Que perdesse o sono imaginando maneiras de fazer você se dar mal ou que dormisse feito um anjo a noite inteira, esquecido por completo da sua existência? O ódio é também uma maneira de se estar com alguém. Já a indiferença não aceita declarações ou reclamações: seu nome não consta mais do cadastro.Para odiar alguém, precisamos reconhecer que esse alguém existe e que nos provoca sensações, por piores que sejam. Para odiar alguém, precisamos de um coração, ainda que frio, e raciocínio, ainda que doente. Para odiar alguém gastamos energia, neurônios e tempo. Odiar nos dá fios brancos no cabelo, rugas pela face e angústia no peito. Para odiar, necessitamos do objeto do ódio, necessitamos dele nem que seja para dedicar-lhe nosso rancor, nossa ira, nossa pouca sabedoria para entendê-lo e pouco humor para aturá-lo. O ódio, se tivesse uma cor, seria vermelho, tal qual a cor do amor.Já para sermos indiferentes a alguém, precisamos do quê? De coisa alguma. A pessoa em questão pode saltar de bung-jump, assistir aula de fraque, ganhar um Oscar ou uma prisão perpétua, estamos nem aí. Não julgamos seus atos, não observamos seus modos, não testemunhamos sua existência. Ela não nos exige olhos, boca, coração, cérebro: nosso corpo ignora sua presença, e muito menos se dá conta de sua ausência. Não temos o número do telefone das pessoas para quem não ligamos. A indiferença, se tivesse uma cor, seria cor da água, cor do ar, cor de nada.Uma criança nunca experimentou essa sensação: ou ela é muito amada, ou criticada pelo que apronta. Uma criança está sempre em uma das pontas da gangorra, adoração ou queixas, mas nunca é ignorada. Só bem mais tarde, quando necessitar de uma atenção que não seja materna ou paterna, é que descobrirá que o amor e o ódio habitam o mesmo universo, enquanto que a indiferença é um exílio no deserto
Martha Medeiros

domingo, 20 de abril de 2008

CONCURSO DE COMPOSIÇÃO _ UFRJ

1º CONCURSO DE COMPOSIÇÃO PARA A ORQUESTRA SINFÔNICA DA UFRJ - 2008
Os departamentos de Composição (02) e de Música de Conjunto (07) realizam, conjuntamente, a primeira edição do Concurso de Composição para a OSUFRJ, exclusivamente aberto a alunos de graduação da Escola de Música. O período de inscrição de obras vai até o dia 07 de julho de 2008 e selecionará 2 (duas) obras para integrar a programação da OSUFRJ na temporada 2008/2009. Segue o texto completo do Regulamento.

1º Concurso de Composição para a Orquestra Sinfônica da UFRJ/2008

Regulamento(aprovado pelo Departamento de Composição em 17 de março de 2008)

Art.1º. O Concurso será aberto, exclusivamente, a alunos de graduação da Escola de Música da UFRJ, matriculados nos cursos de Bacharelado em Música ou Licenciatura em Música, visando incentivar a produção de obras para orquestra.
Art.2º. O Concurso será coordenado por uma comissão de dois professores do Departamento de Composição, que avaliarão se as inscrições atendem às normas deste edital e cuidarão do material a ser encaminhado à Comissão Julgadora por eles próprios organizada;
Art.3 º. O aluno concorrente deverá apresentar, no ato da inscrição, mediante requerimento protocolado (que deve conter o título da obra inscrita), um curriculum vitae resumido (com até 500 palavras) e uma cópia da partitura editorada da obra concorrente, sem qualquer identificação de autoria.
§ 1º - Os alunos só poderão inscrever-se no concurso se estiverem regularmente matriculados em, ao menos, uma disciplina obrigatória do Curso de Bacharelado em Música – Composição, que não pertença ao Núcleo Comum do Bacharelado.
§ 2º - A participação como compositor de obra executada pela OSUFRJ só será permitida a um mesmo aluno no máximo duas vezes, enquanto for aluno de graduação.
§ 3º - Cada concorrente poderá inscrever até duas obras no concurso.
Art.4º. As obras concorrentes deverão atender às seguintes exigências:
I- Deverão ser inéditas;
II- Deverão ter mais de 6 (seis) e menos de 12 (doze) minutos de duração aproximada;
III- Deverão ser compostas para 2 flautas, 2 oboés, 2 clarinetes (Bb), 2 fagotes, 4 trompas (F), 2 trompetes (Bb), 2 trombones, trombone baixo, tuba, até 3 percussionistas e cordas (primeiros e segundos violinos, violas, violoncelos e contrabaixos).
§ 1º - A comissão julgadora, ouvidos os professores de Prática de Orquestra, poderá desclassificar qualquer obra que apresente dificuldade técnica superior às possibilidades de execução da OSUFRJ em 4 ensaios.
§ 2º - Os compositores das obras selecionadas deverão se responsabilizar pelo fornecimento do material de orquestra em quantidade suficiente para a execução da obra.
§ 3º - O material deverá ser editorado e montado para leitura (encadernado, colado, etc.).
§ 4º - Os professores de prática de orquestra ou o regente do concerto poderá vetar material que não esteja em condições de ser utilizado.
Art.5º. O período de inscrição de obras no Concurso 2008 será de 7 de abril a 7 de julho de 2008, e a Comissão Julgadora apreciará os trabalhos até 4 de agosto de 2008, quando serão conhecidas as obras selecionadas.
Art.6º. A Comissão Julgadora será composta de número ímpar de membros, convidados pela Coordenação do Concurso.
§ 1º - O presidente da Comissão será um dos professores de prática de orquestra.
§ 2º - Os demais membros da Comissão serão convidados dentre os docentes da Escola de Música da UFRJ que não possuírem alunos concorrentes inscritos em suas turmas no 1º período de 2008.
§ 3º - A Coordenação poderá convidar também um músico que não pertença à Escola para compor a Comissão.
§ 4º - Os membros da Comissão não terão acesso aos nomes dos compositores concorrentes e nem terão seus próprios nomes revelados até o dia da publicação do resultado do Concurso.
Art.7º. Serão selecionadas 2 (duas) obras para integrar o programa de um dos concertos da OSUFRJ na temporada dos dois semestres subseqüentes à realização do Concurso, de acordo com a conveniência e as possibilidades da orquestra.
Parágrafo único. A Comissão Julgadora poderá não indicar nenhuma obra vencedora do Concurso, caso avalie que nenhuma obra inscrita atende os requisitos estabelecidos.
Art.8º. As decisões da Comissão Julgadora são irrecorríveis.
Parágrafo único. A partir da instalação da Comissão Julgadora, todos os casos omissos referentes ao Concurso serão resolvidos, exclusivamente, pela Comissão, ouvida a Direção da Orquestra.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Uma crônica


Amanhecer em Copacabana
Antônio Maria
Amanhece, em Copacabana, e estamos todos cansados. Todos, no mesmo banco de praia. Todos , que somos eu, meus olhos, meus braços e minhas pernas, meu pensamento e minha vontade. O coração, se não está vazio, sobra lugar que não acaba mais. Ah, que coisa insuportável, a lucidez das pessoas fatigadas! Mil vezes a obscuridade dos que amam, dos que cegam de ciúmes, dos que sentem falta e saudade. Nós somos um imenso vácuo, que o pensamento ocupa friamente. E, isso, no amanhecer de Copacabana.
As pessoas e as coisas começaram a movimentar-se. A moça feia, com o seu caniche de olhos ternos. O homem de roupão, que desce à praia e faz ginástica sueca. O bêbado, que vem caminhando com um esparadrapo na boca e a lapela suja de sangue. Automóveis, com oficiais do Exército Nacional, a caminho da batalha. Ônibus colegiais e, lá dentro, os nossos filhos, com cara de sono.
O banhista gordo, de pernas brancas, vai ao mar cedinho, porque as pessoas da manhã são poucas e enfrentam, sem receios, o seu aspecto. Um automóvel deixou uma mulher à porta do prédio de apartamentos — pelo estado em que se encontra a maquillage, andou fazendo o que não devia. Os ruídos crescem e se misturam. Bondes, lotações, lambretas e, do mar, que se vinha escutando algum rumor, não se tem o que ouvir.
Enerva-me o tom de ironia que não consigo evitar nestas anotações. Em vezes outras, quando aqui estive, no lugar destas censuras, achei sempre que tudo estava lindo e não descobri os receios do homem gordo, que vem à praia de manhã cedinho. E Copacabana é a mesma. Nós é que estamos burríssimos aqui, neste banco de praia. Nós é que estamos velhíssimos, à beira-mar. Nós é que estamos sem ressonância para a beleza e perdemos o poder de descobrir o lado interessante de cada banalidade. Um homem assim não tem direito ao amanhecer de sua cidade. Deve levantar-se do banco de praia e ir-se embora, para não entediar os outros, com a descabida má-vontade dos seus ares.