domingo, 28 de maio de 2006

Penso em você

Neste momento, penso em você minha menina
e então quisera me transformar em vento.
E se assim fosse,
chegaria agora como brisa fresca e tocaria leve sua janela.
E se você me escuta e me permite entrar,
em você vou me enroscar quase sem tocá-la.
Vou rolar nos seus cabelos, soprar mansinho no ouvido,
beijar sua boca macia, a embalar no meu carinho. Passear pelo teu colo. Refrescar todo teu corpo.
Mas eu não sou vento....
Agora sou só pensamento e estou pensando em você minha menina.
E se abrir sua janela, eu estou chegando aí, agora.....neste momento,
em pensamento....no vento.

quinta-feira, 25 de maio de 2006

Vivos ou mortos?!

Não há ninguém aqui. Os fluidos da minha mente começam a se movimentar e dinamizar meus pensamentos. Volto a ser eu mesmo. Tiro a máscara que cobre minha face envergonhada e a deixo de lado, mas guardo-a com cuidado, pois a qualquer momento posso precisar dela novamente. A casa está vazia de gente, vazia de corpos rabugentos, vazia de mentes que falam baboseiras, e sinto-me bem por isso. Estou num processo de transposição, tudo que acontece dentro deste ambiente tem uma explicação plausível, nada ocorre por acaso. Resolvo observar os mínimos detalhes que passam despercebidos quando estou com a máscara, pois ela também tapa um pouco minha visão, a abertura dos olhos da máscara não é suficiente para que eu veja os detalhes.O que primeiro me toma atenção é o ventilador. Parece que ele quer soprar algo de bom pra mim, ou talvez ele queira jogar nas minhas costas todo o peso que há nele, pra poder se livrar de seu fardo. Ele me manda um ar impregnado de poeira e eu o sinto adentrar no meu nariz. Espirro três vezes. Acho que fez isso de propósito, pra se vingar de algo que eu tenha feito com ele. Mas não me lembro de ter feito nada, nem dava conta da sua existência ali. Dou-lhe uma porrada no botão e ele me responde com frieza, mexendo a cabeça de um lado para o outro, desprezando minha atitude, como se me dissesse: 'não, seu otário, eu não sou fraco o bastante pra sentir dor'. Sinto-me um demente diante daquele ventilador imponente, que me esnoba e zomba de mim como se eu fosse um fracassado isnobe, sem existir por completo. Eu estou agora do tamanho de uma formiga, olho pra cima e o vejo balançar a cabeça insistentemente, como se tivesse com pena de mim.Acho bom mesmo estar do tamanho duma formiga, pois assim os outros objetos não perceberão minha ínfima presença e não tirarão sarro da minha cara. Resolvo ir à cozinha e me deparo com um imenso paredão. É a geladeira. É assustadoramente grande e me faz medo só de pensar em insultá-la, mas consigo ir até ela. Tento abri-la logo de cara, mas não consigo, parece a que a borracha que a veda está colada ao ferro, ela se recusa a escancarar sua porta pra mim. Fico muito puto por isso, mas não me arrisco a bater em algo do tamanho de uma geladeira, posso levar uma surra e sair dali esculachado.Percebo, logo em seguida, a prepotência do liquidificador. Olho com receio aquela hélice afiada querendo girar e amputar um dedo meu. Ele começa a girar, girar, mais e mais rápido, e tudo me leva a crer que o mundo gira em torno dele. Tenta sugar-me pra dentro dele, mas ainda encontro forças pra relutar e vencer aquela tentação infernal que anseia me eliminar. Fico hipnotizado quando reparo no movimento circulatório da hélice e permaneço tonto por um bom tempo, o que me faz ir ao chão.Estou deitado ainda, pregado no chão asqueroso que humanos pisam e deixam seus dejetos, onde cospem chiclets e escarram seus catarros imundos. O chão também é vivo, fico até imaginando o quanto ele deve sofrer pra aguentar o peso esmagador dos gordões que passam por aqui. Ainda consigo ver a luz da cozinha girando com o teto da casa, deve ser o efeito do liquidificador que persiste na minha mente.O meu lapso de inconsciência mais tarde me revela a explicação para o que ocorre com o "não-vivo". Não-vivo é o que aparenta ser inexistente para nós, que não vivemos para este mundo. O não-vivo dos objetos traz a resposta para mim: simplesmente não vivo. E deixo morto tudo que existe dentro da minha cabeça minúscula.Acho melhor pôr logo a máscara, vem vindo alguém aí.