domingo, 11 de junho de 2006

Perguntei a um sábio ,
a diferença que havia
entre amor e amizade,
ele me disse essa verdade...
O Amor é mais sensível,
a Amizade mais segura.
O Amor nos dá asas ,
a Amizade o chão.
No Amor há mais carinho,
na Amizade compreensão.
O Amor é planta
doe com carinho cultivado,
a Amizade vem faceira,
e com troca de alegria e tristeza,
torna-se uma grande e querida
companheira.
Mas quando o Amor é sincero
ele vem com um grande amigo,
e quando a Amizade é concreta,
ela é cheia de amor e carinho.
Quando se tem um amigo
ou uma grande paixão,
ambos sentimentos coexistem
dentro do seu coração.
Poesia de Shakespeare

Saudades tuas minha menina!

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Um menino

Uma marcha fúnebre tocou sobre o ambiente pesado que se fazia presente no casarão. A frieza tomou o lugar do desespero, antes velado sob a angústia das dores de outrora, que ainda permaneciam, mas agora de forma mais tênue. As pessoas quase mortas, que passavam pelo lugar, deixavam ali suas mágoas e seus pesares, contribuindo para que o ar do ambiente se tornasse mais sólido e compacto.
Os corvos, amantes da dor e do luto, pousavam numa lápide já desgastada, e bicavam sobre um nome importante que não levaria anos para que desaparecesse por completo. Deixavam lá seus dejetos e iam à procura de outra sepultura para nutrirem-se do sofrimento alheio.
Mas ali, ainda no casarão, os vestidos pretos cobriam as primas inocentes e os véus escondiam as amargas lágrimas das tias, que iam e vinham na ânsia de poderem permanecer de pé. Não aguentavam tamanho peso nas costas e ajoelhavam-se sobre aquele pequeno indivíduo, que nem sequer pôde desfrutar da virtude se despedir, de dizer suas últimas palavras insólitas, até porque não tivera tempo para aprender tal intento. Não parecia que algo tão frágil, tão diminuto, pudesse despertar o sofrimento derradeiro de uma multidão que apelava contra a ira do divino.Eis então que o caixãozinho ergue-se imponente sobre a varanda, debaixo de um tripé de ferro antigo e enferrujado que não precisava de esforço algum para sustentar o peso ínfimo daquele pobre habitante de viagem marcada. As pessoas o olhavam de cima a baixo, sentindo-se inferiores e arrebatadas pelo sentimento de culpa, talvez. Todos queriam compartilhar daquele infortúnio, deixando seus pêsames junto com as rosas que entupiam o pequeno esquife.A mãe, então conformada, apenas ouvia atenta o réquiem, lembrando-se dos poucos bons momentos que tivera ao lado do filho. Resolve enfim destrancar a porta de seu quarto abafado e ir ao encontro do pequeno pálido menino. Ao passar pelo corredor ela encontra vários braços de pessoas tentando abraçá-la para o consolo, mas ela se livra de todos eles, não queria que nada atrapalhasse o seu desterro contemplado. Finalmente, depois de várias rejeições de afago, ela consegue chegar sem hesitação à frente do ataúde que abrigava o menino, junto de mais centenas de cartas e bilhetes que completavam o espaço deixado entre as flores que cobriam o caixão. Com toda a sua força e com o coração transbordando, sem no entanto demonstrar desespero algum, ela ergue o véu do rosto e deixa a amostra seus olhos vermelhos e inchados. Seu nariz delgado ainda deixava escorregar uma solitária lágrima, talvez a última, que pingara sobre a tez branca do filho morto. Ela beija a testa molhada do defunto e sente como se seus lábios fossem congelar. Pega nas mãozinhas frias do menino e as aperta delicadamente, como num gesto de comprimento cortês, para se despedir de forma solene do filho prodígio.O pai, que dera ao filho o mesmo nome que lhe era designado, parece que não tivera tempo para ver a tampa do féretro se fechar sobre a alma frágil de seu filho. O vazio da sua mente consolava qualquer tipo de angústia que lhe atracasse o pensamento, sem que se deixasse entregar pelos sentimentos sufocantes. O alarde da tarde o fez enfeitiçar diante do burburinho da noite que se aproximava, mas ainda foi capaz de ver os velhos assistentes batendo o martelo nos pregos que lacravam o caixão. Não pôde ver o rosto sombrio do menino, nem chorar a seus pés. Um dos irmãos viajantes carregava a urna funerária em direção ao carro do cemitério, ao mesmo tempo que uma leva de curiosos o acompanhava. Mesmo depois de ter ganhado o carro, o bebê morto ainda era escoltado por multidões, que corriam desesperadas tentando acompanhar o carro funerário.Ao chegar ao campo-santo, já se podia ver os coveiros suados cavando os últimos dos sete palmos sob a terra. Um deles escorou-se à sua pá e tirou o suor da testa, observando os olhares atentos das pessoas que fitavam o pequeno infortunado. Era comovente para um simples coveiro ter que abrir uma vala para enterrar um corpo ainda de meses, sabendo que aquela terra, sob os seus pés, iria praticar a necrofagia naquele indefeso defunto.O padre rezou a última missa e a marcha fúnebre tocou novamente, para o desterro de lágrimas das pessoas presentes no enterro, que sentiam o coração inchar como um balão, de forma a sufocar-lhes a garganta e lhes fazer soluçar. O desmaio da avó foi inevitável, tendo o tio que se esforçar para segurar-lhe antes que batesse a cabeça na lápide do neto. A maioria, horrorizada, apenas via o caixão apear sustentado pelas cordas desgastadas.As pás moviam-se novamente, agora para jogar a terra sobre a madeira maciça da tampa que cobria o ataúde. A mãe imaginava-se dentro do caixão, agarrada ao filho, escutando o barulho que a terra fazia ao cair sobre a tampa e observando que as luzes se apagavam à medida que a areia os cobria. Enfim, completou-se toda uma tradição funerária e todos seguiram seus rumos inesperados, enquanto que a mãe permanecia solitária ao pé da sepultura acariciando a grama, como se fosse os cabelos de seu filho.