quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Dizem que no universo existem fluxos de tristeza e quando não temos mais as defesas comuns a todo indivíduo (o que é desejável, em certo sentido), esse fluxo chega e nos trespassa de vez em quando. Algo inevitável - é o que dizem. É uma tristeza que não tem nada de pessoal. O que se pode fazer é deixar que esse feixe de tristeza passe, que ele siga seu caminho. Dizem que não devemos detê-lo, pois bem pode acontecer que ele se agarre em nós, mesmo que não nos pertença.
Mas pode acontecer da tristeza vir até nós por outros meios. É quando ficamos tristes por causa de alguém. Dizem que desse modo é mais doloroso, pois é algo pessoal, algo que se liga a nós através de atos de outras pessoas ou na falta destes, quando os esperamos. O que se ouve dizer é que existem certos limites, certo cansaço que nos envolve e pode sufocar. Dizem que devemos comunicar os motivos a quem de direito e tentar resolver por meio de cuidados adicionais ou atenção direcionada.
Ora, e quando esse artifício não funciona?
Eis, meus amigos, uma questão delicada… Não há muito que fazer, além disso. Resta-nos a opção da espera, da paciência, da auto-negação, do desapego. O grande perigo é que, dessa maneira, a responsabilidade fica sobre um só dos pólos do problema: ou você aceita as coisas como estão ou não aceita. A ponte que liga as duas margens fica frágil, com rachaduras; fendas que podem deixar escoar sentimentos e deixar vazar o tempo.
Quem pode se sustentar em cima de uma ponte assim por muito tempo, sem correr o risco que ela desabe e carregue tudo para o fundo do abismo?
É então que retornamos para a margem de onde viemos no início e tentamos vedar esses vazamentos. Mas não conseguimos realizar essa tarefa, sozinhos; é preciso a ajuda da outra margem. Você grita pedindo ajuda, mas pode acontecer da outra margem estar longe demais. Pode acontecer também de te ouvirem, mas pode ser também que não sejam tomadas decisões ou iniciativas para consertar a ponte.
Então você vai ficando rouco e perdendo a voz com o passar do tempo. Decide-se calar, pois só há o próprio eco que volta feio e repetitivo. E assim entra em cena a solidão. Mas essa é uma solidão triste, não aquela que nos faz bem e traz paz quando precisamos. É aquela não solicitada, é uma solidão imposta.
Eis, meus amigos, uma questão ainda mais delicada…